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AUCKLAND
Paisagem diferente. Gente diferente. Do outro lado do mundo - e não tão distante quanto parece -, a Nova Zelândia, com seus programas radicais, é uma bela viagem e uma grande injeção de adrenalina A Nova Zelândia é, indubitavelmente, um mundo à parte. Se você pegar um globo e girá-lo no sentido horário vai perceber, rapidamente, que ela é o último país do mundo. Só 127 anos depois a Nova Zelândia foi reencontrada, pelo capitão inglês James Cook, que rapidamente a reclamou para a coroa britânica. O nome foi mantido, mas os neozelandeses de hoje - quase todos descendentes dos colonizadores britânicos - prefeririam que o país se chamasse Aotearoa, como foi batizado há quase mil anos pelos verdadeiros descobridores da terra: o povo maori. No idioma dessa população, Aotearoa significa O País da Grande Nuvem Branca. O país nasceu radical. Os brancos que ocuparam a Nova Zelândia vieram, principalmente, da Austrália e - também por isso - as pessoas que vivem do outro lado do mundo (nós, por exemplo) costumam imaginar que os dois lugares são parecidos. Austrália e Nova Zelândia são diferentes como água e vinho. A Nova Zelândia é temperada e úmida. As latitudes coincidem com as da Argentina, de Buenos Aires para o sul. Embora estreitas - em nenhum lugar desse país pode-se estar a mais de 100 quilômetros do mar - as ilhas são compridas. Do extremo norte ao extremo sul, a distância é equivalente à que separa Recife de São Paulo. E o que é mais curioso: tudo isso faz de nós, sul-americanos, uma espécie de vizinhos da Nova Zelândia. O vôo polar da Aerolineas Argentinas provou que, passando pelo eixo sul da Terra, estamos quase tão próximos da Nova Zelândia quanto da Europa, embora a maioria dos viajantes que sonham com Paris descarta Auckland como se essa cidade - a maior do país - ficasse na Lua. Bobagem! A Nova Zelândia é uma viagem possível e única. Auckland não é a capital da Nova Zelândia (a sede do governo é Wellington), mas é a maior região metropolitana do país, com 950 mil habitantes (menos, por exemplo, que Campinas, no interior de São Paulo). Nessa baía, aliás, chama a atenção a concentração de veleiros de todas as espécies e tamanhos, confirmando a visceral ligação do neozelandês com o mar. Outra atração de Auckland - que vai ser escala obrigatória na ida ou na volta - é o Auckland Museum, que tem um notável acervo de arte polinésia e guarda os vestígios mais importantes da cultura maori. Mas quem vai até a Nova Zelândia só para explorar centros urbanos? Descarregue a bagagem, ajuste-se (se puder) ao fuso horário e, como os maoris, interne-se no país. Em dez minutos de estrada rumo ao sul - é uma boa idéia começar pelo Parque Nacional Tongariro, a terra dos vulcões - você já terá compreendido que o verdadeiro neozelandês não é maori nem pakeha (branco). Minutos depois, já acostumado ao bucólico balido dos cordeiros, você começará a invejá-los pelo panorama que desfrutam. A deliciosa paz dos campos neozelandeses é, porém, a ante-sala das turbulências geológicas que se aproximam. Os maoris dizem que essas terras têm alma de fogo. Parte exposta de uma cordilheira vulcânica sob as águas do Pacífico, a Nova Zelândia fervilha por dentro. Há dezenas de vulcões ativos na ilha do norte, quatro deles concentrados no Parque Nacional Tongariro. O mais vistoso e explosivo do grupo é o Ruapehu, com 2 800 metros de altitude, neves eternas na borda da cratera fumegante e várias estações de esqui em suas encostas. A dica das pipocas pode não ser excitante, mas é a mais sensata. Porque, se você entrar no pique dos intrépidos neozelandeses, em meia hora estará num teco-teco dando rasantes sobre a cratera em brasa. É fundamental, aliás, entender que há dois tipos de turismo na Nova Zelândia. Que chega a ser literal na região de Rotorua, sua próxima parada. Ali, pouco ao norte do Lago Taupo, o maior do país e um dos mais piscosos do mundo (as trutas são tão grandes que cabem numa mentira de pescador), você começa a ver vapores emanando da terra. Nos jardins das casas de veraneio, algumas donas de casa cozinham o frango em pequenas poças naturais. Você prefere a alternativa kiwi? Então entre num 4 por 4 e chacoalhe pelas paredes do Monte Tarawera rumo à cratera do extinto vulcão, que no século passado ainda provocava grandes estragos. Depois deslize pelos pedriscos enegrecidos rumo ao centro da cratera. Se tudo isso - ou muito mais - lhe suceder na Ilha do Norte, ainda assim poupe o fôlego. A Ilha do Sul, separada pelo Estreito de Cook, é maior, muito menos povoada e muito, muito mais radical. Christchurch, principal cidade da região, com 330 mil almas, ainda engana com sua aparência pacata de cidade do interior da Inglaterra. A maioria das lojas pertence a chineses e predominam os artigos orientais. Mas também há lojas de griffe com preços melhores do que os praticados no Brasil. Começando pelo litoral, banhado por águas mais frias, há baleias na costa do Pacífico (região de Kaikoura) e pingüins no Mar da Tasmânia. O território é cortado, no sentido norte-sul, por uma cordilheira de picos nevados apropriadamente batizada de Alpes do Sul, onde fica o Monte Cook, o mais alto do país, com 3 754 metros. Só que, ao contrário dos europeus, os Alpes daqui são quase despovoados. Há pouca gente e muitos keas, os únicos papagaios alpinos do planeta. Na costa oeste da Ilha do Sul, uma área com mais de mil quilômetros de comprimento e apenas 35 mil habitantes, de frente para o Mar da Tasmânia, a Nova Zelândia ainda é - mais que em qualquer outra parte - a ilha remota que o mundo viu no filme O Piano. Pois essa é outra fascinante contradição dessa terra no fim do mundo. O frágil equilíbrio ecológico das ilhas vem sendo um desafio mais perigoso do que seria a presença de feras e serpentes. Os ingleses introduziram alguns casais e, de repente, na falta de predadores, a Nova Zelândia ficou infestada deles. Os inventivos e primitivos kiwis lançaram-se à caça, com bizarras espingardas de três canos. Hoje esse é um dos maiores problemas do país, porque a caça liberada tem feitos menos vítimas do que a capacidade de reprodução da espécie. Arbusto espinhudo, trazido da Escócia para servir como cerca natural para as ovelhas, o tojo encontrou no rico solo neozelandês os nutrientes que o transformaram em praga incontrolável. Quando você estiver na tranqüila estrada que avança pela costa oeste da Ilha do Sul rumo aos glaciares Fox e Franz Joseph, vai ver inofensivos bosques cheios de flores amarelas. Os glaciares Fox e Franz Joseph são os únicos do mundo que abrem espaço entre florestas de características tropicais - e essa intersecção entre o gelo remanescente de priscas eras e o verde espesso das matas neozelandesas é outro dos diferenciais marcantes desse país. E, quanto mais ao sul você for, mais encantadoras vão ficando as paisagens, que ganham um ar definitivamente temperado na região dos lagos Wanaka e Hawea. Sua parada obrigatória na porção meridional da Ilha do Sul é a deliciosa cidade de Queenstown, uma mistura de estação de esqui alpina com adrenalina kiwi. Daqui partem os barcos que viajam pelos fiordes (sim, há até esse componente nórdico na paisagem do país) na região chamada Fiordland. Aqui, também, se reúnem andarilhos do mundo inteiro para os encantos da Milford Track, tida como a mais bela trilha do planeta Aqui, por fim, há tudo o que se pode esperar em termos de esportes radicais, de acrobacias aéreas a jet boating e, principalmente, os templos do bunggy-jumping: a Skipper Bridge, com inacreditáveis 102 metros de altura, e a histórica Kawarau Suspension Bridge, operada pelo próprio A. J. Hackett. Em Queenstown, na Ilha do Sul, 22 graus é o pico, e, à noite, pode baixar para 10 graus. Nesta época, chove menos na Ilha do Norte que na do Sul. O ideal é que você fique pelo menos duas semanas na Nova Zelândia, para aproveitar bem o seu tempo. Na Ilha do Norte, um dia inteiro em Auckland será o suficiente para você conhecer a cidade. Depois parta para a exploração da Ilha do Sul. Depois, de volta a Christchurch, parta para o lado oeste da ilha, atravessando os Alpes do Sul. No dia seguinte, explore as geleiras e pernoite na região. O quinto dia na Ilha do Sul vai ser uma longa viagem (cerca de 500 quilômetros) até Queenstown. Madrugue porque você vai parar para tirar fotografias a cada meia hora, especialmente na região dos lagos Hawea e Wanaka.
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