A Índia não é, decerto, um país para ser compreendido de cara. Você verá uma gigantesca demonstração de fé, ao ar livre.

Diariamente, milhares de pessoas descem as escadarias das margens do rio para lavar os pecados nas águas sagradas. Morrer em Varanasi é ter mais chances de alçar ao nirvana, a paz espiritual, especialmente se o corpo for cremado numa fogueira de sândalo, à beira do Ganges. Entre os que se banham no Ganges você também notará muitos não-indianos, facilmente identificáveis pela tez mais clara. Na maioria, são jovens mochileiros europeus, atraídos pelas diferenças culturais e pelos baixos preços da Índia. O país é baratíssimo. Duas pessoas comem bem por 5 a 10 dólares - se bem que gastarão um pouco mais em água mineral para aliviar os efeitos da picante comida indiana. Mas só os preços não justificariam as levas de jovens do mundo inteiro que vêm para cá. Eles também chegam em busca das revelações, como, aliás, acontecia 30 anos atrás.

Foi moda gostar da Índia nos anos 60. Quem viveu a época, recorda. Eram os tempos em que o misticismo oriental pairava no ar, junto com a fumaça do incenso. Os Beatles largaram tudo para meditar em Rishikesh, no norte do país, e Jimi Hendrix apareceu como hindu na capa do seu segundo LP. Pois, neste fim de milênio, a Índia voltou à moda. Agora é a atriz Demi Moore quem vem atrás dos gurus (recentemente passou uma semana de silêncio na cidade de Puna), enquanto a cantora Madonna veste-se de hindu e canta mantras.

Tudo na Índia é diferente. O calendário, a arquitetura e até a roupa das mulheres. Buda viveu a maior parte da sua vida pregando na Índia. E o Dalai-Lama mora aqui até hoje. São 1 bilhão de habitantes, ou 17% da população do planeta. Tem vacas, bicicletas, carroças, riquixás, camelos, tuc-tucs e carros. Afinal, um hindu é capaz de oferecer o seu próprio almoço para saciar a fome do animal. Justamente por isso, calcula-se que existam mais de 200 milhões de vacas soltas pelo país. Alheias ao trânsito, são, eventualmente, atropeladas. Conseguiu refúgio em Dharamsala, uma cidade próxima da Cordilheira do Himalaia, onde, desde então, comanda uma resistência pacífica e religiosa. Hoje, Dharamsala é vista como uma espécie de governo paralelo do povo tibetano. Embora fique dentro da Índia.

A Índia tem a maior produção de cinema do mundo: 900 filmes por ano, sempre para consumo interno e quase sempre rodados em Bombaim - cidade, por isso mesmo, apelidada de "Bollywood". Os rajputs do Rajastão, por sua vez, cultivam vastos bigodes. A maioria das mulheres usa o bindi, aquele adorno na testa, que já foi privilégio das casadas. As mulheres do sul da Índia o colocam do lado direito, as do norte no esquerdo e as da Índia Central, nos dois lados. O livro Kama Sutra (ou Aforismos do Amor) costuma ser visto pelos ocidentais como um manual de posições sexuais. A obra original é um vastíssimo tratado filosófico, versando sobre os mais diversos assuntos e escrito há 15 séculos, pelo sacerdote indiano Mallanaga Vatsyayana. Infelizmente, as divagações religiosas e filosóficas foram extirpadas já da primeira tradução ocidental, em 1883. Sobraram só as posições sexuais, como as que, há 1000 anos, já apareciam nas esculturas eróticas dos lindos templos da cidade de Khajuraho.

Os grandes hotéis não custam barato na Índia - seguem, na verdade, os preços mundiais. Mas todo o resto é muito acessível, do transporte às refeições. Um casal, por exemplo, almoça bem por US$ 5 a US$ 10. E não gasta mais do que US$ 20 por dia.