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VERMONT

Todo mundo aprende na escola que o ano tem quatro estações. Mas nenhum de nós, brasileiros, tem a mínima noção do que seja um outono de verdade até chegar aqui, no nordeste dos Estados Unidos, e em outubro. As folhas ganham tons fluorescentes de vermelho-néon, laranja-metálico, amarelo-limão, tudo tão brilhante que parece que acabou de cair do céu uma chuva de purpurina.

Não admira que os americanos adorem tanto sua "autumn foliage", a ponto de dar boletins diários do progresso das cores das folhagens nas seções de meteorologia dos jornais de Nova York. É que um dos melhores lugares do mundo para apreciar a natureza vestida de vermelho (se não o melhor, já que é o de mais fácil acesso) é a região da Nova Inglaterra, entre Boston e Nova York, berço político e cultural dos Estados Unidos. Nessa época, surge ao norte da região uma onda vermelha que se espraia em direção ao sul, atingindo sua amplitude máxima nos primeiros dez dias de outubro para depois ir morrendo devagar, até que a última folha cor de ouro velho se desprenda do galho, no final do mês. No total, o espetáculo do outono dura pouco mais de 20 dias. Essas árvores, que segundo o dicionário se chamam bordos em português, são reconhecíveis pela folha, aquela da bandeira do Canadá, e pelo produto: uma espessa calda de açúcar chamada maple syrup, que os norte-americanos adoram comer com panquecas no café da manhã.

Com pouco menos de 600 000 habitantes, Vermont é predominantemente rural. Muitas dessas casas datam do século passado e nunca foram modernizadas, porque não havia dinheiro para isso. Afinal, Vermont faz parte da Nova Inglaterra, e a Nova Inglaterra tem lá os seus princípios.

O jeito de ser dessa região foi moldado tanto pela história quanto pela geografia. Os colonos que se estabeleceram primeiro na Nova Inglaterra, lá por 1600, eram todos puritanos, uma gente tão severa no comportamento que emigrou da Inglaterra porque achava excessivamente frívolos os rituais da igreja anglicana e as atitudes dos seus adeptos. O termo, que para o resto do mundo é sinônimo de norte-americano em geral, para os habitantes dos Estados Unidos designa apenas os moradores da Nova Inglaterra, com seu espírito prático, sua objetividade, sua dureza de cintura e, sobretudo, seu pão-durismo. Um ditado que os ianques adoram repetir não poderia expressar com mais clareza a natureza pouco generosa deles, mas só tem graça quando dito em inglês: "Eat it up, wear it out, make it do, do without" (algo como "Coma até o fim, use até gastar, faça render, vire-se sem").

Em Vermont tudo brilha, e até as vacas têm modos: andam em fila, impecáveis como ladies, a caminho dos currais cor de telha. O leite é do tipo que deixa bigodes. O sorvete, da marca Ben & Jerry, virou febre nos Estados Unidos inteiro e na ("velha") Inglaterra também. Não é coisa só do filme As Pontes de Madison: no Estado inteiro os córregos de aguinhas espertas têm pontes cobertas, às vezes pintadas do mesmo vermelho-telha que é tão típico dos currais, celeiros e silos. A maioria das pontes data do século passado e o telhado visa, justamente, preservá-las da ação do clima, porque a estrutura é de madeira, que apodrece se deixada debaixo de sol, chuva e neve. As charretes foram trocadas por automóveis, mas as pontes continuam lá, do mesmo jeito.

Primeiro, porque passar férias "no campo" virou moda entre os nova-iorquinos, e o Vermont é um dos locais eleitos para isso, justamente por causa de suas características rurais e da proximidade com a maior cidade do mundo - o sul do Estado fica a apenas cinco horas de carro de Nova York ou a três de Boston. Nada disso aconteceria se a região não tivesse tanto encanto natural para somar ao seu charme. O Estado é cortado no sentido longitudinal pela cordilheira das Green Mountains, uma sucessão de montanhas que, no inverno, vira uma animada seqüência de pistas de esqui.

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