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NOVA YORK São milhares de restaurantes, centenas de hotéis e incontáveis atrações obrigatórias. A Grande Maçã retoma seus bons tempos, veste-se para a festa de fim de ano e mostra por que ainda é a capital do mundo A ilha de Manhattan foi dos índios antes de pertencer ao mundo e a propaganda diz que Nova York é a capital do mundo. Na esquina da Broadway com a 54th Street o táxi responde ao aceno e pára buzinando. Você olha para cima, mede o colosso de cimento, lembra da cidade que acabou de conquistar lá do alto, com os olhos e os pensamentos soltos, e então soma as despesas de um passeio tão prosaico: 24 dólares. A Nova York de que você ouve falar é a cidade mais famosa do Estado de mesmo nome. A metrópole é formada por cinco distritos: Manhattan (a famosa ilha, o coração do gigante), Brooklyn, Bronx, Queens e Staten Island. Para a maioria dos visitantes, Manhattan é o que interessa. De um lado, as águas do Hudson River, de outro as do East River, ambos estreitos o bastante para que se veja a margem do outro lado. O formato da ilha lembra um apêndice, mais largo na base, mais estreito na ponta. Bem no meio da ilha, quase toda esquadrinhada por ruas e avenidas simétricas e muito lógicas, fica um grande retângulo verde de 340 hectares, o Central Park - é uma área equivalente a 523 campos de futebol! Ao norte do Central Park está o lado pobre e mais sincero de Manhattan, o Harlem. Em Midtown está o Theater District (o pedaço mais famoso da Broadway), a Times Square e outros lugares de nomes assim conhecidos que você a vida inteira viu em filmes, livros e em luminosos de boates na boca-do-lixo. Downtown é o pedaço mais boêmio e sedutor da cidade. Por causa desse não-saber-onde-vai-dar, aconteceu até um vexame histórico com a sede do poder na cidade. De frente para a cidade, sem vizinhos na retaguarda, o prédio elegante não mereceu mais do que uma improvisada parede de tijolos crus na parte de trás. Não pense, por exemplo, que Nova York é Primeiro Mundo. É comum os sem-teto desabotoarem a calça, apresentarem os documentos e resolverem o aperto junto da sarjeta, à luz do dia. É Terceiro Mundo quando alguns garotos resolvem desafiar a velocidade dos trens de metrô, atravessando os trilhos entre as plataformas. Surfistas ferroviários, igual no Rio, mas à moda americana. Depois vieram os índios, filhos dos filhos dos filhos que há muitos anos abandonaram a América do Sul - teoria que os americanos não estão querendo engolir. Banhada por um rio generoso, que descia de montanhas distantes, a chamada New Amsterdan era tudo o que os holandeses queriam para fazer frente aos avanços do domínio espanhol e português no Novo Mundo. Nova York sempre cresceu rápido. Mais do que a quantidade, no entanto, chama a atenção a hegemonia desses números: não há maioria, todas as raças e etnias estão lado a lado nos gráficos do Censo. Tarde Demais para Esquecer (1957), Intriga Internacional (1959), Operação França (1971), Amor, Sublime Amor (1961), Perdidos na Noite (1969), Chinatown (1974), Taxi Driver (1976), Contos de Nova York (1989)... É de fazer duvidar a quantidade e variedade de obras-primas, mesmo com o quartel-general do cinema funcionando muito longe, em Hollywood, do outro lado da América. Na literatura e nas artes, entre nova-iorquinos da gema e forasteiros ilustres, a mesma genialidade, em lista extensa: Walt Whitman, Hermann Melville, Edgar Allan Poe, George Gershwin, Josephine Baker, Billie Hollyday, Andy Warhol, Arthur Miller, Frank Lloyd Wright... Afinal, por que Nova York? Não precisa ser cineasta, escritor ou vanguardeiro para especular. Com dois ou três dias na cidade, você já tem a impressão de que se alguma coisa de muito importante estiver para acontecer no mundo será em Nova York. Tudo bem que nas montanhas do Nepal você esteja mais próximo de Deus, mas em Nova York a sensação é a de que Ele está sempre de olho, com uma idéia na cabeça. Esse bucolismo é parte da história. Foi no século passado que Nova York maturou sua inclinação cultural. A Broadway, que era charmosa e inteligente já fazia tempo, ganhou a concorrência da vizinha Bowery Street, menos sofisticada, com artistas malditos e espetáculos mais para o italiano do que para o inglês: o teatro do povão. Em 1850 alguém já contava: 10 mil pessoas circulavam todo dia no circuito Broadway-Bowery atrás de diversão (mera coincidência, era esse também o número de prostitutas na cidade). Apesar dessa tradição nas artes, Nova York guarda pouco da arquitetura de outros séculos. Porque a história da cidade é também a história dos aventureiros, dos mercenários, dos barões do lucro imediato, da especulação imobiliária, das demolições e dos grandes incêndios. Wall Street, coração financeiro do mundo, já foi área estritamente residencial. O "El" - abreviatura de elevated, um trilho suspenso que percorria várias ruas da cidade - alcançou os distantes rincões do Harlem (1880), depois surgiu a audociosa Brooklyn Bridge (1883), projeto do imigrante alemão John Roebling, e daí a era eterna dos arranha-céus, marca registrada de Nova York. Chegando em novembro ou dezembro, você encontra Nova York se vestindo para a festa. Aos poucos as luzes miúdas envolvem as árvores, surgem as fantásticas decorações nas vitrines das lojas, os patinadores no gelo e, com a ajuda do vento frio e da neve que costuma cair em dezembro, compõe-se a fantasia do mais inacreditável fim de ano do planeta. No Central Park, mesmo sob neve, os adeptos do jogging aparecerão para não perderem o fôlego. Nas ruas, quando a tempestade é forte, a neve é afastada até junto das calçadas, formando montes branquinhos, modificando o trajeto usual dos pedestres. E sal grosso nas avenidas, nas calçadas, em grande quantidade para evitar que as pessoas escorreguem, que os carros derrapem na pista. Já houve falta de sal em Nova York por causa disso. Protegidas pela aura do "se é bom para Nova York, é bom para todos", muitas pocilgas subsistem à custa dos desavisados. Lembre-se da meta, resista, Nova York funciona 24 horas, às vezes mais. Em Nova York atuam três tipos conhecidos: o deslumbrado, o contido e o "da casa". Entendê-los é importante, afinal, bem mais do que prédios, parques, pontes, museus e teatros, o que mais se vê em Nova York é turista. Estão nessa categoria os autores de intermináveis ohs! e ahs! no terraço do Empire State e os que, munidos de poderosas câmeras plásticas, na ânsia de uma foto épica, pisam sorridentes nos montes de cocô que os patos esparramam na grama em torno da Estátua da Liberdade. O deslumbrado toma parte no corso dos ônibus panorâmicos da Gray Line, que dão a volta na ilha com um guia recitando a história e as lendas da metrópole. Ele é também um dos heróis na fila do espetáculo mais concorrido em toda a Broadway, ainda que aquele crítico insista em dizer que a montagem já não é tão boa quanto na estréia, há nove ou dez anos, ou que vários atores e dançarinos tenham começado ontem nesse primeiro emprego. O contido pode ser novato nesse exercício de descobrir a capital do mundo, mas prefere o caminho do lobo solitário ao ritmo feérico das excursões e tours organizados. O "da casa" conhece bem o jogo. Assíduo visitante, o publicitário Washington Olivetto, em artigo da revista Vip Exame, recomendou boicote aos restaurantes TriBeCa Grill, Hard Rock Cafe e Planet Hollywood: "Como está todo mundo lá, fique na Rua Oscar Freire mesmo que sai muito mais barato". Menos no inverno, quando o programa é dançar no gelo; correr ou andar, brincar na neve, pedalar, namorar ou qualquer coisa no Central Park; voar de helicoptero, porque é bom, barato e bacana; andar de metrô, porque é barato, rápido e agora mais seguro; visitar as locações de filmes como Plaza Hotel de O Grande Gatsby, a F.A.O. Schwarz de Tom Hanks em Quero; almoçar no Bouleys e jantar no cachorro-quente da esquina, assistir à ópera e depois aplaudir o saxofonista na calçada. A Grand Army Plaza é uma clareira num dos mais movimentados cruzamentos de Nova York. É nesse ponto que a 5th Avenue abandona a companhia agradável do Central Park, encontra a 59th Street e sua extensão ilustre, a Central Park South. A seqüência das fotos conta o resto da história: a quantidade de táxis circulando na região, a cordilheira de grandes edifícios ao longo da 5th Avenue, a imensidão misteriosa do Central Park, os limites incertos do Harlem, do lado de lá etc. etc...Por 35 dólares você chega de táxi (amarelo!) em Manhattan. No inverno dos EUA (21/22 de dezembro) os relógios são atrasados em uma hora. No Brasil, horário de verão, adiantamos uma hora. De táxi, gastam-se entre 5 e 10 dólares na maioria dos trajetos em Manhattan. Alugar um carro em Nova York? Jamais! Dois bons livros: The Historical Atlas of New York City, de Eric Homberger, Editora Henry Holt & Co. - Guia New York, da brasileira Kátia Zero, Makron Books, obra-prima, indispensável. Gorjetas: Táxis - 15% do valor da corrida - Carregadores de malas: 1,50 dólar por volume - Restaurantes: o equivalente a duas vezes o valor do imposto cobrado (mas veja se já não está incluída na nota!). Dica: Leve várias cópias do passaporte e da passagem aérea, que você pode espalhar na bagagem e se safar em caso de perda ou roubo.
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