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LOS ANGELES

No início dos anos 50, sem dinheiro para filmar em poucas semanas, como é o costume, o diretor Orson Welles passou três anos gravando Othello, de Shakespeare. Inúmeras vezes homenageada e retratada por Hollywood, Los Angeles é, vista de perto, uma cidade estranhamente familiar. E, ao mesmo tempo, curiosamente estranha.

Visto nos filmes, ele parece dominar a paisagem urbana; qual a surpresa, então, ao constatar que é preciso exercitar razoavelmente os músculos do pescoço para vislumbrá-lo em meio aos edifícios do Hollywood Boulevard, e que para vê-lo em toda a sua glória é preciso se perder em um emaranhado de ruas sinuosas que percorrem os contornos da serra, até que ele decida se revelar de frente e por inteiro.

Ao ver seu carro diminuindo a velocidade em sinal óbvio de hesitação, eles já vão informando: "Desça mais um pouco, vire à esquerda, suba à direita». Essa gentileza toda, aliás, é uma das grandes atrações de Los Angeles. Seguindo uma tradição estabelecida entre a maioria dos californianos, os angelenos - quase 10 milhões deles na grande área metropolitana, congregando imensas comunidades latinas, orientais e de várias outras partes do mundo - nunca dizem apenas "um café, por favor". Por via das dúvidas, porém, os moradores da Grande Los Angeles gostam mesmo é de prédios baixos e casas térreas.

Sem arranha-céus que escondam seu relevo privilegiado, Los Angeles acabou se espalhando por uma área descomunal, mas ganhou uma aparência que não agride os olhos, que assim podem permanecer sempre livres para acompanhar suas ondulações e se deleitar com a visão da costa, das colinas, da serra e das palmeiras - que aliás viraram sua marca registrada.

Mas é por ser tão espraiada também que a cidade fez a fuma de paraíso dos carros e inferno dos pedestres. Cortada por centenas de vias expressas, as freeways, Los Angeles é de fato a primeira cidade americana da era do automóvel, já que viveu sua explosão populacional ao mesmo tempo em que essa indústria se expandia.

Os quarteirões do Hollywood Boulevard adornados com as estrelas da Calçada da Fama compõem também um dos mais desanimadores mafuás de que se tem notícia, um lugar onde lojas de bugigangas disputam espaço com lanchonetes muito suspeitas. A boa notícia é que essa decepção tem os dias contados: a exemplo do que aconteceu na Times Square nova-iorquina, a prefeitura deve entregar até 2001 um Hollywood Boulevard totalmente reurbanizado, cujo principal atrativo será a babilônica sede do Oscar.

Outra roubada é o "downtown", o centro da cidade, onde contraditoriamente concentram-se alguns hotéis de luxo. Visto ao longe, do alto de Mulholland Drive, um misto de rua e estrada encarapitado na crista da montanha e escolhido como residência de astros como Jack Nicholson e Warren Beatty, o centro da cidade é decididamente lindo. É como se aquele conjunto arquitetônico moderníssimo tivesse brotado em meio à cidade baixinha e em tons de terra, com picos ao fundo. Los Angeles começa a mostrar seu verdadeiro poder de sedução uns 15 ou 20 quilômetros mais a oeste, seguindo na direção da praia. Ali, onde o Wilshire Boulevard cruza a Rodeo Drive, bate o coração de Beverly Hills, um dos bairros mais opulentos e esnobes do planeta (bem, na verdade Beverly Hills é uma cidade, mas parece mesmo um bairro). Rolls Royces, Bentleys, Jaguares, Ferraris, Porsches e BMWs circulam em Beverly Hills com a mesma naturalidade que os Fusquinhas e Brasílias rodavam no Brasil dos anos 70. E no verão, principalmente, o que não falta é oportunidade para apreciar as versões conversíveis de todas essas marcas. De tanto ser cercado por elas aos magotes em cada farol de trânsito, logo você estará achando que sair em plena luz do dia em carros que podem custar algo como 1 milhão de dólares é a coisa mais normal do mundo. Isso sem falar nas raridades como modelos históricos de Cadillacs ou Thunderbirds, conservados como no dia em que saíram de Fábrica, algumas décadas atrás.

Rodeo Drive e Beverly Hills são também o paraíso das griffes famosas e das mansões literalmente cinematográficas, muitas das quais pertencem ou pertenceram a astros e estrelas desde a idade do ouro do cinema. De Beverly Hils até o mar e ao longo de sua extensa orla, Los Angeles é toda um passeio. Há, primeiro, o charme despretensioso e aconchegante da região de Westwood, onde fica o quartel-general da UCLA, ou University of California em Los Angeles. Em seu entorno pipocam cinemas, cafés, pequenos restaurantes, clubes noturnos e livrarias, cuja missão na vida é atender aos jovens moradores do bairro. É, a exemplo de Beverly Hills, um luxo tão típico da Califórnia quanto aquele bronzeado que seus privilegiados moradores conseguem exibir durante os doze meses do ano.

Los Angeles, é claro, não acaba aí. Apesar de contar com atrações como o ambicioso Getty Museum, inaugurado no finalzinho do ano passado, para dar abrigo a importantes obras de arte (entre elas o quadro Lírios, de Van Gogh, adquirido por inacreditáveis 5 milhões de dólares!), Los Angeles ainda motiva piadas como a da divertida comédia L. A. Story. Talvez esse esnobismo com que europeus e americanos de centros mais tradicionais como Nova York, Chicago, Washington ou Boston tratam Los Angeles tenha raízes em duas coisas que a maior cidade da Califórnia, com mais automóveis do que gente, pode oferecer em quantidades ilimitadas: ilusões e vaidade. Para entendê-las, basta pensar que em nenhum outro lugar dos Estados Unidos há mais pessoas com educação superior. Ou que, desde o início desta década, o desemprego no Condado de Los Angeles tem diminuído a cada ano e que esta é hoje a terceira cidade com maior poder de compra do país. No Brasil, quando a gente fala em "centro" pensa logo no coração da cidade. Em Los Angeles, como em muitas outras metrópoles, a história é bem outra: o centro fica longe de tudo. Em meio às ruas, com aquele comércio típico dos centros velhos, a visão não é tão atraente. Tem a Olvera Street, um animado trecho de México que pode (e deve) ser visitado por quem deseja conhecer um pouco da herança cultural da cidade. Há muitas atrações ligadas ao cinema que podem ser visitadas em Los Angeles, a começar pela velha (e ainda boa) Disneylândia e os estúdios da Paramount e da Warner. Mas a mais compensadora é o parque da Universal (foto). Já no Citywalk, o calçadão que todos têm de atravessar para chegar à bilheteria, há dezenas de restaurantes (entre eles o Hard Rock Café), lojas, cinemas e artistas que fazem performances. Lá dentro, não perca o Back the Future - The Ride (inspirado na série De Volta para o Futuro), o passeio por um rio em cujas curvas se escondem gigantescos dinossauros e a demonstração ultra-realista dos efeitos utilizados no filme Backdraft - Cortina de Fogo.

A Calçada da Fama é um daqueles endereços que turista nenhum deixa de conferir. Ela cobre uns trinta quarteirões (contando os dois lados da rua) do Hollywood Boulevard e de Vine Street e foi concebida como uma homenagem às pessoas que fizeram da cidade a sede mundial da indústria do entretenimento: são mais de duas mil estrelas com os nomes de seus "proprietários´ gravados em pedra e metal. Os nostálgicos devem seguir direto para Vine Street, onde ficaram imortalizados os grandes ídolos do passado. Mais bacana ainda é a tosca calçada em frente ao Mann´s Chinese Theatre: é lá que alguns dos sujeitos mais famosos do mundo se ajoelham para gravar no cimento seus pés e mãos, mais alguma dedicatória de próprio punho. Segunda dica: não costure e não destoe, ande na mesma velocidade dos outros carros. Não se deixe seduzir pelas imagens do cinema ou do seriado S.O.S. Malibu: essa região é mesmo linda, mas só para quem pode pagar. Arrisque subir nas ruas que saem da estrada para galgar a montanha: é possível sentir um gostinho do que é levar essa vida boa. Melhor do que isso, só se você estiver de posse de uma escritura.

Essa é a pergunta que o turista mais faz ao guia de sua excursão ou ao mapinha que acabou de comprar na esquina, por extorsivos 8 dólares. Los Angeles não é só a cidade do cinema: é também a cidade dos cinemas. Seguindo pelo Wilshire Boulevard na direção leste até o Ogden Drive, o turista encontra um dos mais curiosos marcos de Los Angeles: La Brea Tar Pits (foto), um enorme poço de piche (repare no cheiro) que, durante o século passado, foi usado como mina de asfalto. Ao contrário de Nova York, onde os viajantes solitários realmente não destoam nos restaurantes, cinemas ou ruas, Los Angeles é uma cidade que pede companhia. No verão, leve várias bermudas, camisetas ou vestidos leves, mais calçados confortáveis e uma roupa mais quentinha para a noite, que pode ir do fresco ao triozinho. Se você gosta de cinema, está no lugar certo: a oferta de pôsteres, suvenires, camisetas, bonés e bugigangas relacionadas ao assunto é inesgotável. Da mais simples camiseta à melhor roupa de Donna Karan ou Tommy Hilfiger, a qualidade do material e do feitio dificilmente decepciona.

O inglês leva aquele sotaque "redondo" da Califórnia. Los Angeles não é uma cidade eminentemente noturna. Boa parte dos restaurantes fecha cedo para os padrões das grandes cidades brasileiras e é proibido usar os estacionamentos de praia após o pôr-do-sol. Na primavera e no verão há também a vantagem da beleza: L. A. está toda em flor de abril a setembro. No outono e no inverno, que não é tão rigoroso assim, o ar é menos poluído que o habitual.

Como em qualquer outra cidade americana, aqui há muita gente que não ganha salário, só recompensa. Calcule 15% do valor da conta do restaurante ou da corrida de táxi.

 

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