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BOSTON

Quando alguém marca um compromisso num lugar que se chama, pomposamente, de Boston Common e se sabe que esse tal Boston Common é o berço da maior nação do planeta, você já começa a criar imagens em sua cabeça e ouvir, ao fundo, os compassos arrepiantes do hino norte americano. Ainda mais se souber que o tal lugar é a sede do governo do impronunciável Estado de Massachusetts e que, dentro dele, passa uma tal de Trilha da Liberdade, que conduz aos imortais caminhos percorridos pelos revoltosos que, em 1 776, conseguiram livrar-se do jugo da Coroa Inglesa.

A sensação de solenidade fica quase palpável quando você tem em mente, ainda, que Boston é a cidade dos Kennedy e de todas as principais dinastias políticas norte-americanas. E que, portanto, possuindo tanto História quanto tradição, ela se dá ao direito de esnobar o resto da federação, considerando que ali (e só ali) vive a nata da América, os legítimos e incontestáveis wasp (sigla para a frase white anglo saxon protestant - brancos, anglo-saxões, protestantes) que, afinal, são, a seu próprio ver, os verdadeiros americanos da América.

Mas aí você vai ao compromisso e descobre que o tal Boston Common (será que eu me enganei de endereço?) é um simpático jardim com o mais autêntico clima de praça da matriz de cidade do interior. Boston é, de fato, pouco mais do que uma simpática comunidade com ares provincianos. Os restaurantes esnobes do centro (onde você será tratado de acordo com a griffe do seu paletó). As igrejas de onde, há quase 500 anos, emana a mais autêntica moral puritana. Os bairros do South End, onde a elite se esconde dos mortais atrás de grandes jardins e construções com ares vitorianos. E, especialmente, as riquíssimas imediações, como a área que vai até Cape Cod (veja na página 40), um amontoado de vilarejos ricos e elegantes, com propriedades - essas sim - dignas dos bostonianos que as habitam.

Mas - e Boston?  o que Boston tem são suas dimensões reduzidas e um certo appeal proviciano. Mas o que a torna uma cidade imensamente charmosa é que, além disso, Boston consegue ser tão cosmopolita quanto Nova York ou Chicago e tão jovem como a platéia de um show do Oásis.

O quesito juventude você já matou: Boston é, sim, um grande campus universitário. Na cidade (que tem 600 mil habitantes) e nos arredores existem cerca de 100 universidades diferentes. Desses dois bastiões do academicismo norte-americano já saíram tantos chefes de Estado, Prêmios Nobel e capitães de indústria que é quase impossível contá-los. Ambas as universidades atraem a nata dos estudantes americanos e, para conseguir freqüentá-las, não basta ser um CDF. É preciso ser o CDF dos CDFs.

Na prática, essa concentração de universidades significa uma multidão de jovens enfeitando a cidade inteira. O Rio Charles tem centenas deles remando ou velejando todos os dias (alguns até no mais rigoroso inverno). As ruas de Cambridge - o bairro onde ficam as duas escolas, na margem norte do Charles - são coalhadas de bares, discotecas, cervejarias e, claro, livrarias, papelarias e lojas de computador. A biblioteca pública de Boston, um dos orgulhos da cidade, tem nada menos que 6 milhões de títulos diferentes. E o consumo de Big Macs na cidade é estratosférico.

Na trilha dos jovens, vem o ar romântico da cidade. Há até um suave ar libertário em Boston, tribos diversas afrontando as "imaculadas" instituições bostonianas. Mas, no fundo, a cidade não os rejeita - e, o que é pior, acaba cooptando-os. Esse fenômeno fica claro no final de maio e início de junho, época reservada às formaturas das diversas turmas. Nesse período, a cidade se enche de pais e avós orgulhosos, vindos de todas as partes da América e de muitos outro lugares do mundo) para as cerimônias de praxe. Essa gente toda mantém a cidade ocupadíssima o ano inteiro. Há centenas de hotéis concorridos e os visitantes dão o ar cosmopolita que contrasta com o cenário de província. Boston é uma cidade para pedestres e esse é até um dos seus slogans. Mesmo com um ótimo sistema de metrô (cujas estações são identificadas pela letra "T"), não há nada que substitua um bom calçado na missão de conhecer a cidade. Do chamado Waterfront - a região portuária que fica num dos extremos da cidade - até as ruas sofisticadas de Back Bay (o bairro mais gostoso de Boston), ninguém perde mais do que 1 hora caminhando. Isso, se parar para ver as vitrines e curtir a atmosfera da cidade.

A própria Trilha da Liberdade, um traço desenhado no calçamento que percorre dezesseis marcos históricos ligados à Independência americana, tem apenas 3 milhas (cerca de 5 quilômetros). Um programa legal para se despender um dia todo, aprendendo sobre a saga de Paul Revere e outros rebeldes que, no final do século 18, se insurgiram contra os altos impostos britânicos e fizeram nascer os Estados Unidos da América. Um dia todo para 5 quilômetros? Sim, porque, no caminho, você vai poder parar para experimentar as mundialmente famosas lagostas da Nova Inglaterra, ou tomar um delicioso chowder (sopa cremosa de frutos do mar) num dos muitos restaurantes no caminho. E, mais tarde, quando bater a saudade da pizza, você terá tempo de sobra para entrar numa das muitas cantinas e trattorias do chamado North End de Boston, o bairro italiano.

Há muitos italianos na cidade. Na Newbury, os almofadinhas adquirem seus ternos de griffe e os apreciadores do chamado turismo de compras encontram todas as grandes marcas americanas, da Gap à Banana Republic. Também não se pode perder uma visita à famosa Copley Square, onde fica a Igreja da Trindade, cartão-postal recorrente de Boston. Os fotógrafos adoram captá-la contra o fundo envidraçado da John Hancock Tower (xará de um famoso prédio de Chicago), o maior espigão da cidade, que, com sessenta andares distoa na paisagem de contornos baixos.

Ainda vai lhe sobrar tempo para um gostoso fim de tarde no Faneuil Hall do Quincy Market, uma área revitalizada no centro da cidade, onde há uma espécie de feira de artesanato permanente e vários bares e restaurantes. Trata-se de uma reduzida frota de carros anfíbios, nos quais por 19 dólares o visitante pode fazer um tour pelas atrações da cidade e, de repente, continuar o passeio navegando pelas águas do Rio Charles. Além de surpreendente, a jornada é divertida, proporcionando belas vistas panorâmicas da cidade.

Isto tudo feito, você já conhece Boston. Se for, basta empinar o nariz e andar na cidade com ares de dono do mundo. Se você é um dos milhares de brasileiros que curtem ir a Nova York para umas compras (ou para uma rodada completa na Broadway), Boston pode ser uma excelente extensão para a sua próxima viagem. Afinal, embora teoricamente você tenha que cruzar três Estados para ir de uma cidade a outra (Nova York, Connecticut e Massachusetts) a distância entre elas é menor do que a que separa o Rio de São Paulo. São apenas 330 quilômetros, todos eles na ótima Rodovia 95, que é muito movimentada, mas suficientemente larga. Se você quiser ir de trem, a cada 2 horas uma composição parte de Nova York para Boston. Reservas no Brasil pelo (011) 257-1137. De avião, são apenas 40 minutos de vôo (mais o trânsito de NY).

Onde estão todos aqueles bostonianos ricos? Essa pergunta é recorrente entre os visitantes da Boston que se restrigem aos limites geográficos da cidade. Há muita História também. Em Plymouth, por exemplo, há uma réplica do Mayflower ancorada no porto. Num veleiro rústico exatamente igual, os primeiros peregrinos ocidentais chegaram à América do Norte e aportaram naquele lugar. Alí, num vilarejo reconstituído em minúcias, o visitante pode ver como era a vida no século 17 e, até, conversar com peregrinos "originais" que falam um estranho inglês da época. Essa estranha península em forma de escorpião é a chamada praia dos americanos chiques. Ali, o trânsito pode ser infernal no verão, mas no resto do ano é indiscutível o encanto de localidades como Sandwich, Chatham e Falmouth. As praias de Cape Cod são longas e sempre batidas pelo vento. Em toda essa área, há dezenas de hotéis encantadores e restaurantes de cozinha estrelada. Ótimas opções de hospedagem são o Dan´l Webster Inn, em Sandwich, 001 508 888 5156 e o Chatham Wayside Inn, em Chatham, 001 508 945 3407.

Por ser uma cidade de universitários, Boston tem variadíssimas opções de hospedagem, muitas delas acessíveis. A B&B Agency of Boston, 001 617 720 3540 oferece centenas de alternativas para você ficar hospedado em casas de família no melhor estilo inglês (afinal aqui é a Nova Inglaterra) ou alugar pequenos apartamentos com ou sem serviço.

Em Boston, é absolutamente obrigatório comer na Union Oster House, que além de ter lagostas e frutos do mar deliciosos, vem a ser o mais antigo restaurante em funcionamento nos Estados Unidos: foi fundado em 1826. Fica na Union Street, 41, 227-2750. Isto feito - e se você estiver disposto a deixar uns 50 dólares por pessoa - conheça o reduto dos bostonianos quatrocentões. Chama-se Locke-Ober, fica no 3 da Winter Place, no centrão e aceita reservas pelo 542-1340. Na área de Back Bay, come-se muito bem (inclusive na calçada, no verão) no The Famous Atlantic Fish Co, que fica no 777 da Boylston Street, 267-4000. Saudades da boa comida italiana? Corra para o North End, o chamado bairro dos italianos. Do outro lado do Rio Charles, no domínio dos estudantes, é fundamental reservar uma noite para o John Harvard´s Brew House, um lugar descontraído, com hamburgueres competentes que é, ao mesmo tempo, uma pequena cervejaria. Os preços de Boston são, em geral, um pouco maiores do que os de Nova York. Para comprar pequenos suvenires e algum (bonito) artesanato da Nova Inglaterra é o Faneuil Hall no Quincy Market, que fica na New Congress Street, no centro da cidade

O melhor da noite bostoniana são os arredores de Harvard Square. Com tantos estudantes loucos para descarregar energia, a região tem endereços explosivos como o House of Blues, que fica no 96 da Whintrop Street. O competente escritório de turismo de Boston chama-se Greater Boston Convention and Visitors Bureau. O telefone é 001 617 536 4100 e o fax 001 617 424 7664. Na Internet, acesse http://www.mass.vacation.com.

Com tantos intelectuais na cidade, Boston tem ótimos eventos durante todo o ano. São shows, peças de teatro e performances diversas. Você pode saber o que está rolando durante sua estada lendo o Boston Globe ou o Boston Herald, os dois principais jornais diários da cidade. Ou se ligar para 617727 3201, o telefone das informações sobre eventos em Boston.

Sapatos confortáveis. Um dos slogans de Boston é a "cidade dos pedestres" - e ele se justifica. Quase todas as atrações da cidade são acessíveis para quem caminha normalmente (não é preciso ser atleta). O "T" vêm de trem.

Leve roupas pesadas, se você optar pelo outono ou pelo inverno. Tênis confortáveis para caminhar às margens do Rio Charles ou fazer window-shopping na Newbury Street. Afinal, Boston é a cidade da elite norte-americana. Em vários restaurantes da cidade, nem é permitido entrar sem paletó e gravata.

 

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