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Diante da fila de bravos esquiadores no teleférico principal de Vail, às 9 da manhã, você, que nunca subiu num par de esquis antes, pode até achar que caiu no planeta errado. A sensação de que é o único desajeitado do grupo terminará assim que contratar um professor de esqui. Não reclame do preço: afinal de contas, você está nas Montanhas Rochosas do Colorado, aquele retângulo no meio-oeste dos Estados Unidos, um dos melhores lugares do mundo para esquiar, e não vai desistir agora. Considere que muitas das 10 milhões de pessoas que vêm para cá no inverno também devem ter pensado em voltar para casa depois dos primeiros tombos - que você, aliás, ainda nem levou -, mas estão todas aí de novo, satisfeitas, prontas para encarar mais uma descida pelas encostas geladas.

Há mais de mil professores de esqui em Vail, todos a serviço da empresa que detém a concessão das montanhas e explora os teleféricos. Vail é o centro de esqui mais concorrido dos Estados Unidos, com 1,5 milhão de visitantes na temporada que vai de novembro a abril. As estações vizinhas de Breckenridge, Keystone e Beaver Creek, que pertencem ao mesmo dono de Vail - e, por isso, aceitam o mesmo passe de esqui e são interligadas por ônibus grátis - recebem outros 2,5 milhões. As pistas favoritas dos brasileiros no Colorado, porém, ainda são as da tradicional e badalada Aspen, a 90 quilômetros dali, que costumam ser freqüentadas por não mais do que 200 mil esquiadores por ano.

Ao contrário de Vail, que foi planejada nos mínimos detalhes para ser uma meca do esqui e só tem 35 anos, Aspen surgiu no século passado em torno de uma mina de prata e já alternou períodos de glória com decadência. Aspen, por sua vez, é a mais procurada por astros e estrelas do show business americano. As duas cidades têm uma população fixa abaixo dos 10 mil habitantes, mas fervem de gente no inverno. Com uma diferença: Aspen vai dormir mais tarde.

Nicholson, que filmou O Iluminado numa montanha não muito longe daqui, tem um sobrado de estilo vitoriano no bairro mais chique, com casa de cachorro no quintal e um jipe preto à porta, cuja placa exibe a sugestiva numeração 666. É um dos visitantes mais assíduos. "Da última vez, Nicholson estava sozinho num bar, lendo os jornais sossegadamente", lembra.

Argentino com alma de andarilho, Gustavo morou alguns anos na Amazônia antes de descobrir Aspen. Como já acontece em Miami e Nova York, os brasileiros também ganharam fama de mãos-abertas no comércio sofisticado de Aspen. "São do Brasil? Fotografem e fiquem à vontade", convida o dono de uma loja especializada em artigos de caubói, que oferece uma grande variedade de chapéus, roupas de franjinhas do tempo de Buffalo Bill e botas supercoloridas feitas de pele de cobra, de crocodilo ou de avestruz. Um par das botas mais enfeitadas pode bater nos 1 000 dólares, quase a metade do que custam os pacotes mais baratos de uma semana vendidos no Brasil para o Colorado. Mas não há dúvida de que faria um tremendo sucesso na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos.

Em Vail, Beaver Creek, Keystone e Breckenridge, as vitrines dos shoppings estão mais voltadas à prática do esqui, mas são igualmente tentadoras. Dos protetores labiais às botas capazes de manter a circulação nos pés mesmo a 20 ou 30 graus abaixo de zero; do protetor de lã para o pescoço às calças emborrachadas, a cada ano mais leves e resistentes, a lista de itens à disposição do esquiador é praticamente interminável. O último grande impulso consumista chegou às prateleiras de Vail e estações vizinhas com a introdução do snowboard, uma nova modalidade de esporte na neve que promete duplicar em pouco tempo o volume de negócios da indústria do esqui, que já movimenta bilhões de dólares no mundo todo. Aspen, que já completou 51 anos de atividades esportivas; e Breckenridge, que também é uma cidade surgida do garimpo, mantêm-se fiéis ao esqui e torcem o nariz para o snowboard.

o snowboard é uma espécie de surf, ou de skate, na neve, permitindo manobras mais rápidas, variadas e radicais do que se consegue com os esquis. No meu caso, acho o snowboard muito mais emocionante", opina Ken Payne, gerente de comunicação do Keystone Resort. Ele estima que o snowboard, preferido pelos mais jovens, já conquistou cerca de 15% do público nos vales de Vail (que inclui Beaver Creek) e Breckenridge (em cujo município estão ainda as pistas de Keystone e Arapahoe Basin). É também o único da região com pistas iluminadas para quem quiser estender as folias na neve até as 9 da noite. Não há por que recusar - os abates dos animais são politicamente corretos, feitos na época certa, sem colocar em risco a extinção das espécies - e o cenário é perfeito para isso. Sem abrir mão do seu prazer, procure também não se entusiasmar demais com as tentações gastronômicas dos restaurantes em geral - para acordar em boa forma no dia seguinte.

As atrações para os turistas nas estações do Colorado também não se restringem ao esqui, às compras e à boa comida. Você pode se sentir na pele de um esquimó, por exemplo, embarcando num passeio de trenó puxado por cães em Aspen. Não se preocupe: você viajará de primeira classe, sentado no trenó, enquanto o condutor vai em pé, de chicote na mão, ditando o ritmo para a matilha formada por dez ou doze huskies do Alasca encarregados do trabalho duro. Crianças de 3 a 8 anos pagam 120 dólares.

Em Keystone, um programa pitoresco é a excursão para jantar no Dinner Sleigh Riders, um rústico restaurante isolado na montanha. Para reproduzir as condições em que viviam os pioneiros do Colorado, a metade final da viagem é feita numa carruagem aberta, debaixo de um frio de congelar pingüim. No final das contas, a viagem debaixo das estrelas e, eventualmente, até de uma nevasca, valoriza ainda mais o suculento bife com batatas servido no restaurante da montanha, que funciona numa cabana dos tempos de Daniel Boone, aquecida a lenha, vinho, cerveja e música country.

As estações de esqui mais antigas do Colorado herdaram a estrutura das cidades surgidas com a corrida do ouro (caso de Breckenridge), da prata (Aspen) e do cobre (Copper Mountain, também nas proximidades). Aspen, que chegou a ter 16 mil habitantes, seis jornais e dois teatros no final do século passado, entrou em rápida decadência a partir de 1893, quando os Estados Unidos decidiram voltar a usar o ouro como padrão monetário, no lugar da prata. No início dos anos 40, não passava de uma cidade fantasma, reduzida a apenas 700 moradores, quando foi escolhida como base para os treinamentos dos soldados da Décima Divisão, a tropa-esqui do Exército americano que iria lutar na Itália contra as forças do Eixo.

Assim que a guerra terminou, o ex-soldado Friedl Pfeifer convenceu o empresário Walter Paepcke a investir na transformação da cidade em estação de esqui. É impressionante olhar para as montanhas geladas do Colorado, hoje aparentemente imprestáveis para a agricultura e até mesmo para a mineração, e perceber os milhares de esquiadores que descem pelas encostas, fazendo os lucros dos donos das estações aumentarem como bolas de neve. Pode apostar.

Principal destino dos esquiadores brasileiros no Hemisfério Norte, o Colorado começa a disputar cada vez mais as nossas atenções com centros de esqui do Canadá e da Europa. O motivo é o crescimento brutal dos praticantes de esportes de inverno no Brasil, que não passavam de mil há dez anos e hoje já se aproximam dos 30 mil, segundo estimativas das operadoras. Um pacote de uma semana para Courchevel, na França, já pode ser encontrado por US$ 1 500, com hospedagem, café da manhã e jantar (mas sem passagem aérea e passe para o teleférico), enquanto os mais baratos para Aspen e Vail custam em torno de US$ 1 000. Junto com Méribel e Van Thorens, Courchevel forma o Trois Vallées, o maior complexo de esqui do mundo, com 600 quilômetros de pistas e movimento de até 250 mil esquiadores por dia na alta temporada. De olho no mercado brasileiro, os centros de esqui Steambolt, no Colorado, e o Deer Valley, em Utah, também começam a ser divulgados por aqui, puxando uma fila que pode vir a ser muito maior - há cerca de 400 pistas de esqui nos Estados Unidos, espalhadas pelos Estados do Colorado, Utah, Nevada, Montana, Novo México, New Hampshire, Nova York, Maine e Vermont.

São muitas as opções de hospedagem nas estações do Colorado, e sempre a partir de um bom padrão de qualidade. É mais fácil conseguir descontos através das operadoras brasileiras, mas você pode consultar diretamente os preços dos hotéis em cada centro de esqui. A noite, nos bares e restaurantes. Em Keystone, não perca o jantar à moda dos pioneiros no Dinner Sleigh Rides (970-496-4386).

É muito mais prático alugar o equipamento de esqui do que comprar um, se você ainda não é um esquiador constante. Quanto às roupas. As botas supercoloridas de caubói estão no Shoe Shop.

Há ônibus gratuitos ligando os hotéis aos pontos de partida dos teleféricos e principais pontos comerciais: use e abuse deles. Jantar à moda dos pioneiros no Keystone Dinner Sleigh Riders. O período de uma semana, previsto na maioria dos pacotes turísticos, é a medida certa. Um estreante precisa de três dias para aprender os movimentos básicos do esqui ou do snowboard - e de pelo menos mais três para se aperfeiçoar e curtir de verdade a neve.

 

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