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CINGAPURA

Jeito de primeiríssimo mundo e lojas abarrotadas de novidades. Tudo funciona como um relógio nesta fantástica cidade asiática. É triste, mas ninguém programa uma viagem só para Cingapura. Quando um turista resolve se aventurar pelas bandas da Ásia, pensa logo em lugares como Bali ou Bangcoc - se o avião fizer uma escala em Cingapura e der tempo de dar uma volta, ótimo. Palavra quase mágica em nossa mitologia geográfica, Cingapura - assim mesmo, com C, embora o resto do mundo a chame Singapura - imediatamente dispara em nossas cabeças um videoclipe e com cenas de 007 e filmes B de Kung Fu, com perseguições intermináveis entre bancas de fruta e pocilgas, casas de ópio, chineses banguelas e moças lindas, seminuas e maltratadas. Mas não é bem assim - se bem que, tirando os mosquitos com dentes e o intrépido James Bond, que nunca existiram, sim, Cingapura já teve essa cara.

Muito mais do que isso, porém, essa ilhota asiática, espremida entre a ponta da Malásia e o mar, a mais de 15 mil quilômetros do Brasil, é um paraíso tecnológico, futurista e rico, onde os descendentes de chineses são maioria (78%), mas não falta espaço para malaios (14%), indianos (7%) e mauricinhos ocidentais. Tem mais: é um lugar de arquitetura inovadora, edifícios inteligentes, que tem baixos índices de poluição, altos índices de civilidade, corrupção zero e uma renda per capita que lhe garante um nível de vida superior ao da França, Inglaterra e Japão!

Para descobrir tudo isso, basta chegar ao aeroporto internacional de Cingapura, considerado um dos melhores do mundo. É possível ir a Cingapura, não sair do aeroporto e voltar cheio de histórias para contar aos netos. É preciso andar a pé no centrão, onde raramente se buzina, e tentar encontrar uma bituca de cigarro no chão. As passadas tranqüilas, isentas de qualquer preocupação a respeito de trombadinhas ou mesmo pedintes com criancinhas no colo, certamente o levarão à Orchard Road, a principal avenida da cidade, onde estão alguns dos mais fantásticos shopping centers do planeta, incluindo-se aí o Takashimaya, o maior de toda a Ásia. É claro que ainda interessa muito aos homens de negócios do Ocidente manter a imagem de uma Ásia atrasada e inóspita - observe a quantidade de produtos asiáticos que você tem em casa hoje para entender o medo que eles têm da mordida desses felinos. A recente crise chacoalhou a economia da região, as torneiras de investimentos foram fechadas, mas o clima na área é positivo. O turismo, por exemplo, está até crescendo em função do incrível barateamento de produtos e serviços. A verdade é que nunca foi tão conveniente viajar para Cingapura.

Com hotéis luxuosos e uma enorme variedade de atrações bem ao gosto do viajante ocidental, a ilha de Cingapura está se consagrando como uma espécie de Disneylândia para yuppies e consumistas compulsivos. O grande problema é a distância: são 25 horas de avião, no mínimo, e um avanço de 11 horas no fuso horário. Outra dificuldade é entender que Cingapura é uma cidade, um estado e um país, tudo ao mesmo tempo, e fica numa ilha de 640 quilômetros quadrados ao sul da Malásia, menor que a de São Luís, no Maranhão, e apenas duas vezes maior que a de Ilhabela. Esse pequeno grande país começou a surgir em 1957, com o fim do domínio colonial inglês na Malásia, da qual Cingapura fazia parte. Governando com mão de ferro, liderando o único partido político, é ele o responsável pela conduta irrepreensível do poder público, das instituições e das muitas etnias que se misturam nas ruas dessa cidade-estado. É ele também o semeador da sanha tecnológica e progressista que acomete executivos, burocratas, estudantes e cientistas, gente que aprende e exercita humildemente a lição do mestre: "Eu não acho que democracia leve necessariamente ao desenvolvimento. Mais do que democracia, um país precisa de disciplina para se desenvolver."Jogar um papel no chão, usar um banheiro público e não dar descarga, cuspir no chão, atravessar fora da faixa ou vender material pornográfico dão multas pesadas e podem até levar o infrator a uma boa temporada atrás das grades. Lembra do rapaz americano que pichou um carro e levou três descarnantes chibatadas? Pois é, foi em Cingapura. Portanto, comporte-se.

Para escapar de tantas leis e manuais de boa conduta, o melhor é visitar o venerando Hotel Raffles, um dos mais charmosos e históricos de Cingapura. Foi ali, debaixo de uma das mesas de bilhar do hotel, que o último tigre selvagem da ilha foi ruidosamente abatido, em 1902. Nas suas varandas sem fim circularam ricos e famosos e inúmeras páginas da literatura de nosso tempo foram rabiscadas em seus quartos, bares e jardins, freqüentados por escritores como Sommerset Maugham, Joseph Conrad, Noel Coward, Herman Hesse e Rudyard Kipling, só para citar alguns. O Long Bar do hotel, onde nasceu o mftico Singapore Sling (explosiva mistura de gim, cherry brandy, limão e club soda - não deixe de experimentar!), é, talvez, o ambiente mais democrático do país. Ao contrário do resto da ilha, no bar a ordem é sujar o chão: as cascas de amendoim são jogadas para lembrar os velhos tempos e permitir uma contravençãozinha, porque ninguém é de ferro.

Nesse samba do chinês doido, os benefícios são propagados com muito orgulho por motoristas de táxi, guias turísticos e arrumadeiras de hotéis. À exceção de um ou outro velhinho e de alguns imigrantes da Tailândia ou Filipinas. Também não faltam eletroeletrônicos de ultimíssima geração, provavelmente mais up-to-date do que os das lojas de Miami ou Nova York. Nos bairros étnicos, como Chinatown, Arab Street e Little India, encontram-se atrativos tão interessantes aos sentidos quanto ao bolso. Ao cabo de um ou dois minutos, vocês conseguirão chegar a um acordo, provavelmente algo em torno de 60% a 80% do preço da etiqueta. Tome pelo menos alguns goles de chá e evite desprezá-lo na xícara, pois dizem que isso também traz maus agouros.

Convém também levar em conta conduta respeitosa, quase pudica, do povo cingapuriano, menos que você tenha conquistado um notável grau de intimidade com alguém de outro sexo nada de beijinhos no rosto ao despedir - aqui isso é considerado excesso de intimidade. Embora muito popular, o durian é formalmente banido em diversos lugar es públicos por causa de seu cheiro insuportável, apesar do sabor delicioso. Segundo um cingapuriano experiente, "o durian tem o sabor do céu, mas o cheiro do inferno". Por último, para quebrar o protocolo, um pensamento budista, colhido da "bíblia" dos cingapurianos, o livro Os Ensinamentos de Buda, presença prosaica no criado-mudo de todos os hotéis da ilha: "Em verdade, harmonia é a vida e todo o sentido de uma verdadeira comunidade ou organização ". O Zoological Gardens, (65)269-3411, é um dos melhores zôos do mundo. No Night Safari, bem ao lado, você faz um tour noturno entre a bicharada. Para agitar o point é o Boat Quay, com bares e restaurantes na beira do rio. Na Orchard Road ficam os shoppings mais festejados (Ngee Ann City, Scotts, Wisma Atria e o gigantesco Takashimaya) e também alguns grandes magazines japoneses (Yaohan, Sogo e Isetan). A dica é bater nas lojas do tipo outlet, onde roupas de grife com pequenos defeitos são vendidas por uma ninharia. Uma das boas é a Factory Outlet, no Takashimaya. Para artesanato e compras exóticas, siga o mapa dos bairros étnicos, como Little India, e lembre-se de que nesses lugares pechinchar é de lei.

Cingapura é turbinada o ano todo. Em janeiro e fevereiro, porém, o agito do Novo Ano Lunar toma as ruas com muita alegria. No começo de julho e no começo de agosto, as lojas fazem as grandes liquidações anuais. Leve pouca roupa, pois o território tropical, quente 365 dias por ano, Cingapura não exige sequer camisas de manga comprida. Mas lembre-se das escalas na Europa, onde essa regra não vale.

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