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TORONTO

De Toronto a Vancouver são quatro dias de trem. Nesse caso, uma longa viagem de trem até que não seria má idéia, hein? A viagem começa em Toronto, na região dos Grandes Lagos, que invade parte do Canadá e outro tanto dos Estados Unidos.A maior cidade canadense, com 3,2 milhões de moradores, é exemplo de metrópole planejada. Seus arranha-céus não se projetam amontoados. Em vez disso, formam um quadro de geometria equilibrada, que se reflete nas águas serenas do lago Ontário. Toronto é um centro multicultural que abriga povos e culturas de 70 países. Aproveite alguns dias por ali antes de embarcar no Canadian para uma aventura até o oeste selvagem.

Uma vez no trem, abandone o ritmo da metrópole. Se as florestas começam a dar as catas ainda ao redor dos Grandes Lagos, cerca de três horas depois do embarque, elas só serão substituídas no dia seguinte. À medida em que avança em direção ao Pacífico, o trem atravessa as três capitais das províncias da região central do Canadá: Winnipeg, Saskatoon e Edmonton. Estas cidades são, ainda hoje, um pouco do que foi a Califórnia nos idos da conquista do oeste, na metade do século passado. Lá estão os aventureiros, os imigrantes dos quatro cantos do mundo, os caubóis que criam seus rebanhos soltos na imensidão, os funcionários das empresas de petróleo e o que resta dos índios nativos. Nas paradas do trem, que não ultrapassam uma hora, vale conhecer alguns desses personagens, que parecem saídos de um livro de Mark Twain. As famílias de índios, especialmente, são freqüentes na classe econômica do comboio. E comum vê-los estendendo o braço à beira da ferrovia, fazendo sinal para subir no Canadian.

Na manhã do terceiro dia de viagem, o trem inicia a subida das Montanhas Rochosas do Canadá, urna das regiões mais fantásticas do mundo. Em duas horas, está nas entranhas das Rochosas, nas proximidades do Parque Nacional de Jasper. É difícil resistir à tentação de descer na cidade de Jasper e explorar este que muitos consideram o mais bonito parque natural do mundo. De volta ao trem, você ainda tem a chance de cruzar cânions e desfiladeiros só acessíveis pela ferrovia. É o ponto culminante do passeio e merece ser apreciado segundo a segundo. No amanhecer, você será acordado já com um ar de maresia pela proximidade de Vancouver, na beira do Pacífico. Com 1,5 milhão de moradores, esta talvez seja a cidade mais ecológica do mundo. No lugar da selva de pedra há uma floresta milenar, preservadíssima, o Stanley Park. Surpreende também o número de imigrantes orientais da cidade. O bairro chinês é o segundo maior da América do Norte. Só perde para o de São Francisco, cidade com a qual Vancouver costuma ser comparada, seja pela temperatura do verão ou de sua calorosa juventude.

Pronto, você percorreu, da maneira menos dolorosa possível, mais da metade do Canadá. Imagine, por exemplo, um comboio de vagões decorados no estilo requintado dos anos 30, com aconchegantes cabines-dormitório, bar completo, restaurante de primeira, um vagão-living para sessões de vídeo ou jogos de salão e - surpresa! - vagões cobertos por redoma de vidro, que permitem observar cada centímetro da paisagem. Você está prestes a participar de uma das mais sonhadas travessias: a rota Toronto-Vancouver a bordo do trem Canadian, com seus exatos 4 424 quilômetros de aventura e muito conforto. O comboio atravessa o sul do Canadá quase de ponta a ponta, suavemente e sem solavancos.

O Canadá é o segundo maior país do mundo em extensão (só perde para a Rússia) e um dos mais belos. Escolha o certo também no momento de indicar seus aposentos no trem. Em vez da classe normal, prefira a Silver & Blue, um serviço especial para turistas. Há uma ducha coletiva por vagão. Pelas manhãs, flores frescas no toucador; à noite, trufas junto ao travesseiro.

Os prazeres da mesa são parte importante do passeio. Ao longo dos quatro dias, o cardápio varia para revelar a culinária de cada uma das províncias que o trem atravessa: Ontário, Manitoba, Saskatchewan, Alberta e Columbía Britânica. Como a cozinha canadense emprestou muito da francesa (lembre-se que o país foi colonizado por franceses e ingleses), dá para imaginar as delícias em tortas, molhos e sobremesas, embora tudo adaptado aos produtos locais. A entrada podem ser finas fatias de carne de búfalo secas (uma iguaria indígena) ou pratos à base de salmão defumado. Para acompanhar, vinhos canadenses. Não torça o nariz. Se eles não chegam a igualar os franceses, nem por isso decepcionam. Um dos mais requisitados é o licoroso ice wine, um vinho de inverno preparado com uvas colhidas após a primeira geada do ano, quando congelam no pé. Pela janela, você verá pinheiros gigantes. Verá também campos cobertos por folhagens que trilham do amarelo ao verde-escuro. Você já mediu o tamanho de um sonho? Pois na lcefield Parkway, uma das estradas mais bonitas do mundo e que liga as cidades de Jasper e Banff, ele mede 288 quilômetros. Esta é a distância que você percorre de carro para atravessar os dois parques nacionais mais belos do Canadá (e do planeta, segundo a maioria dos que fizeram o trajeto). Mais no alto, já próximo aos picos das montanhas maiores (que chegam a 4000 metros de altitude), despontam as geleiras, que escorregam seu manto branco a até poucos metros da rodovia. Os automóveis se acumulam nas áreas dos mirantes ou se enfiam na floresta por estradas vicinais. Ali, um ou dois quilômetros adentro, aparecem cachoeiras gigantescas, lagos ainda mais bonitos e muitos caribus. A passagem aérea do Brasil a Toronto, ida e volta, sai em torno de 900 dólares na baixa temporada e 1 250 na alta.

O trem Canadian parte de Toronto às terças, quintas e sábados, sempre às 11 h. A cabine dupla com cama na classe Silver & Blue para o trajeto inteiro custa cerca de 920 dólares na alta temporada (de junho a meados de outubro) e 530 dólares na baixa. Vale deixar claro que, se o passageiro deixar o comboio, terá que pagar novamente o trecho faltante do trajeto. O trem também oferece uma classe econômica, sem cama nem o luxo da turística. Sai pela metade do preço. Reservas no Brasil (011) 258-1977 e (021) 532-7119.

O inverno no Canadá (de novembro a março) não é mole. Melhor nem pensar em viajar para lá. O ideal é aproveitar o final da primavera, em março e junho, ou o verão, em julho e agosto - embora os preços da alta estação subam em até 30%. O início do outono (setembro e comecinho de outubro) é uma boa alternativa. A temperatura ainda está agradável e os preços já caíram.

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